terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

HEPATITE B: E A VACINA; É SEGURA OU NÃO É?


Esper G. Kallás, médico infectologista e imunologista, professor da Disciplina de Imunologia Clínica e Alergia da Faculdade de Medicina da USP 

Veio tarde a expansão da vacinação contra a hepatite B, anunciada pelo Ministério da Saúde. A nova medida estende a vacinação para gestantes após o terceiro mês de gravidez, manicures, pedicures, podólogos, mulheres que fazem sexo com mulheres, travestis, portadores de doenças sexualmente transmissíveis e populações de assentamentos e acampamentos. A hepatite B é conhecida por sua grande capacidade de transmissão, principalmente por via sexual, da mãe para o bebê durante a gestação e/ou no parto e por sangue ou derivados que estejam contaminados. Passa de pessoa para pessoa com mais facilidade que muitos agentes infecciosos, inclusive o HIV, vírus causador da aids. 


Ocorre que há uma excelente vacina contra o vírus da hepatite B. É extremamente segura e eficaz, capaz de proteger quase 100% dos vacinados com as três doses recomendadas. A vacina é aplicada há muitos anos em crianças, como parte do calendário de vacinação brasileiro, com ótimos resultados.

Custa entender, portanto, por que demorou tanto para o Ministério da Saúde estender a vacina para os grupos citados no começo deste texto. A vacina já é produzida no Brasil a custo razoável, dispomos de boa rede de distribuição de vacinas e o país está investindo na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (especialmente o HIV). Acima de tudo, os bons resultados da vacina contra a hepatite B são inquestionáveis. Sabemos, ainda, que grupos especiais, principalmente os portadores de outras doenças sexualmente transmissíveis, mantêm a transmissão do vírus da hepatite B em nosso meio. Há pouco tempo, era difícil vacinar tais pessoas pelo sistema de saúde. Muitos tinham de recorrer a clínicas privadas. Era um tiro no pé. A prevenção da hepatite B com uma vacina pode representar grande economia para o nosso sistema de saúde, já que um paciente que contrai o vírus pode tornar o atendimento caríssimo devido aos tratamentos de longo prazo e possíveis complicações. Acho que devemos ir além. É difícil entender por que o Ministério da Saúde não torna a vacina acessível a toda a população que deseja se vacinar. É um investimento na saúde de todos nós.

drauziovarella


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